• A disciplina em sala de aula, Celso Antunes
Outro dia esperava pacientemente na
fila minha vez de ser atendido, quando um outro cidadão, sem mais nem menos, se
interpôs à frente e pretextando ser amigo de um dos “pacientes” que à minha
frente aguardavam, insurgiu-se e ali se instalou, deixando lá trás um mundo de
resmungos. Minutos depois, esperávamos todos o elevador chegar e mal a porta se
abriu, uma matilha alvoroçada ingressou no mesmo, atropelando os que de lá
saíam. Não demorou muito, aguardava a hora de embarque e tão logo foi feita a
chamada para o voo, uma porção de passageiros desesperados amontoaram-se à
frente, deixando crianças, idosos e deficientes, com suposta preferência,
entrarem por último. Sorte que os lugares eram marcados e assim não coube aos
primeiros o privilégio da escolha. Entrei no voo por último, suspirando
aliviado e pensando minha sorte em não estar buscando lugar no metrô, que
disputa com maior sofreguidão bem mais passageiros.
Confesso que não me habituo a essa
rotina agressiva e acho muito estranho tudo isso, recordando-me de tempos atrás
quando havia uma coisa civilizada chamada “fila” que, agora, parece ter
desaparecido.
Nada de surpreendente no que acima se
relata. Não há morador de cidade grande ou média que não percebe essa
evidência, que não sabe de pai que vai a escola reclamar da falta de disciplina
e atira cascas de frutas pela janela ou estaciona em mão dupla. Ser empurrado,
levar cotovelada, tapa na orelha e xingamento tornou-se comum e quem desejar
ficar livre desses assédios que não tente sair de casa. Ou se aprende a
empurrar ou se é empurrado cada vez mais. Nada disso parece causar estranheza,
mas por paradoxal que possa parecer, existem os que ficam surpreendidos com o
avolumar da indisciplina em sala de aula.
A sala de aula é e sempre foi um espaço
que expressa continuidade da vida, reflexo do entorno. Se assim não for, não
será sala de aula verdadeira, não permitirá que o aluno contextualize em sua
existência os saberes que ali aprende. Ora se a sala de aula é reflexo da
sociedade e se a sociedade urbana perdeu noção de compostura e disciplina, como
esperar que a escola transforme-se em um aquário social, tornando-se diferente
da rua? Se aqui se fechasse esta crônica, ficaria por certo uma questão
essencial. Quer dizer então que não adianta combater a indisciplina em sala de
aula, uma vez que este espaço reproduz a ausência de disciplina que campeia
pelas ruas?
A resposta é claramente negativa.
É essencial que se restaure a
disciplina em sala de aula, que se faça desse valor um objetivo a se perseguir,
não para que a sala se isole da sociedade e também não para que a aula do
professor fique mais confortável, mas antes para que ali ao menos se aprenda
como tentar modificar o caos urbano que o desrespeito social precipitou. Mas,
como fazer isso?
Em primeiro lugar transformando-se a
disciplina em um “valor.” Isto é, fazendo com que seja a mesma vista como uma
qualidade humana, imprescindível à convivência e fundamental para as boas
relações interpessoais. A disciplina não pode, jamais, chegar ao aluno como uma
ordem, um castigo, um imperativo que partindo do mais forte, dirige-se ao
oprimido em nome de seu conforto pessoal, mas como “produto” de debate, reflexão,
estudo de caso e análise onde se descobre a hierarquia de povos disciplinados
sobre clãs sem mando ou sobre sociedades oprimidas. A Literatura, a História e
a Geografia podem se transformar em espelhos que refletem que a disciplina que
se busca não é apenas a que se vê na relação professor x aluno, mas toda aquela
que leva um povo à vitória, um ideal à concretização. Depois de uma ampla
sensibilização sobre a disciplina enquanto valor humano cabe uma franqueza
cristalina na discussão de regras, princípios, normas e fundamentos que são
essenciais a todos, ainda que funções diferentes impliquem em regras não
necessariamente iguais. Qual a disciplina ideal na opinião dos alunos? Qual na
opinião dos professores? Quais regras são boas para todos e quais sanções cabem
a quem não as cumpre? Esse diálogo não deve valer somente para se sensibilizar
a classe sobre o valor da disciplina, mas para formalizar verdadeiro “contrato”
que unindo interesses, exigirá reciprocidade.
Em terceiro lugar um sincero convite
para que todos os membros da comunidade – alunos, pais, professores,
inspetores, serventes, etc. – ajudem a escola a construir os valores que
objetiva. Que se mostre o que a sala de aula está fazendo e o que espera que
faça o cidadão, que se busque algumas simples regras para a comunidade que
uniformizando a solidariedade, sinaliza, para a construção de um ideal. É a
oportunidade para mostrar que o belo e o bom não são questão de preço, mas ação
comportamental de uma comunidade. É possível imaginar o efeito de um boicote de
clientes contra a instituição pública ou privada que menospreze a disciplina? A
construção de regras implica tacitamente na proposição de sanções quando de sua
infringência, tal como no esporte o descumprir da regra implica na falta, e
estas sanções necessitam menos castigar que orientar, menos punir e bem mais
relevar o sentido e a significação de se viver em grupos.
Isto mudará o mundo fora da escola,
além do entorno e de sua comunidade? Ocorrerá a restauração da fila e o voltar
do respeito? Impossível ter certeza, mas ainda sem ela fica a convicção de que
se a comunidade não fizer da sala de aula o seu espelho, ao menos os alunos e
mestres desta sala a transformarão em abrigo sereno que sonha transformar-se em
pequenino modelo para uma comunidade melhor.
(Celso
Antunes.)
http://www.eduvale.br/colegio/index.php?abbree=pagina&id_editoria=39&id=948
DURANTE OS DIAS 7 A 9 DE OUTUBRO FOI REALIZADO PELA ESCOLA MUNICIPAL DONA ALEXANDRINA UM MOMENTO DE REFLEXÃO E PARCERIA COM PAIS E ALUNOS PARA COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DA GENTILEZA NO AMBIENTE ESCOLAR. NA OCASIÃO OS PROFESSORES CONSELHEIROS DAS TURMAS DE 6.º AO 8.º ANO APRESENTARAM AOS PAIS SUAS PREOCUPAÇÕES E JUNTOS TOMARAM ALGUMAS DECISÕES IMPORTANTES QUE IRÁ AJUDAR NA DISCIPLINA DOS ALUNOS EM SALA DE AULA.
REUNIÃO - 6.º ANO A e B
REUNIÃO - 7.º ANO A e B
REUNIÃO - 8.º ANO
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